A matéria a seguir, do JEDUCA, possui qualidade porque informa e apresenta diferentes visões, incluindo a do MEC... Todavia, cabe destacar que outros encontros já foram realizados desde a data de publicação desta matéria. Vide outras postagens deste BLOG.
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cobrem educação, para apoiar
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Medida anunciada por ministério causa mobilização de entidades para as quais é preciso fortalecer escolas regulares como espaços de formação de alunos com deficiência; tema ainda não ganhou força no noticiário. por Marta Avancini (28/05/2018)
O debate em
torno da atualização da PNEEPEI (Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva) foi um dos temas do webinário realizado
em maio pela Jeduca e pelo movimento Todos pela Educação sobre a Meta
4 do PNE (Plano Nacional de Educação), que aborda a educação
especial/inclusiva. O assunto ainda não ganhou força no noticiário, mas já está
mobilizando os movimentos e organizações ligadas aos segmentos envolvidos – os
estudantes com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e
superdotação/altas habilidades.
A notícia
sobre a avaliação e possível atualização da política de educação especial e
inclusiva foi dada pelo MEC (Ministério da Educação), que publicou nota em
seu site sobre uma reunião com representantes de entidades ligadas ao setor
para apresentar as diretrizes e os conceitos orientadores da revisão em estudo.
Não é a possível atualização da PNEE-PEI 2008, mas a atualização contecerá após a fase de publicização do documento proposto pelo MEC para Consulta Pública, prevista para SETEMBRO de 2018, conforme tratado na postagem deste blog http://pnee2018.blogspot.com/2018/07/formulario-de-sugestoes-para-proposta.html
Segundo o
MEC, o objetivo é promover a “inclusão efetiva e não apenas a matrícula”, além
da “acessibilidade plena a todos os recursos que viabilizem o crescimento e
aprendizagem dos alunos”. O texto informa ainda que será realizada uma consulta
pública (prevista para setembro 2018 após a análise da compilação de dados realizada nos estados e municípios) sobre o assunto para receber contribuições da sociedade, ainda sem data
definida.
Outro
motivo, de acordo com o ministério, é a necessidade de atualizar a política
frente aos marcos legais aprovados após 2008, o que inclui mudanças na LDB (Lei
de Diretrizes e Base da Educação).
“Esses marcos legais trouxeram
exigências que devem ser observadas, entre elas alterações de terminologias e
conceitos, a exemplo da denominação de transtornos globais do desenvolvimento,
atualizada para transtornos do espectro autista, bem como a área das altas
habilidades/superdotação, cuja identificação dos estudantes ainda é um grande
desafio a ser enfrentado, com propostas de atenção especializada a serem
desenvolvidas”, informou o MEC.
Diferenças de perspectiva
O debate
sobre a política é visto com bons olhos pelos atores envolvidos, mas não existe
consenso entre as organizações e grupos sobre as mudanças. Há grupos favoráveis
à revisão, e outros que temem que a proposta do MEC altere a concepção de
educação inclusiva atualmente em vigor, a qual preconiza que esses alunos sejam
matriculados em classes comuns, junto com os demais estudantes. Para esses
setores, além de não haver contradição entre a PNEEPEI e a legislação em
vigor, é preciso manter e fortalecer as escolas regulares como espaços de
formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento
e superdotação/altas habilidades.
Como
reiterou durante o webinário a jornalista Lailla Micas, do Instituto Rodrigo
Mendes, é fundamental preservar alguns princípios preconizados pela legislação
em vigor. “Não se pode permitir retrocessos de pontos que vêm sendo
acompanhados ao longo dos anos e têm melhorado”, diz ela, referindo-se aos
dados de matrícula dos estudantes com necessidades educacionais especiais.
Dados do
Censo Escolar, compilados na plataforma Observatório do PNE,
apontam que, do total de matrículas desse grupo de alunos, 82% eram em escolas
comuns no ano de 2016. Essa proporção representa uma inversão da tendência no
período anterior à política, quando predominavam as matrículas em escolas
especiais (ou seja, que atendem exclusivamente crianças e adolescentes com
alguma deficiência ou outro tipo de necessidade educacional específica). Em 2007,
menos da metade dessa população (46,8%) frequentava uma escola comum.
De acordo
com Lailla, na perspectiva da inclusão é fundamental manter e ampliar o número
desses estudantes em escolas comuns. “É papel da sociedade, segundo a
legislação em vigor, eliminar as barreiras para que haja equiparação de
oportunidades. Isso significa colocar as pessoas em ambientes comuns. E o
atendimento educacional é feito pela escola”.
Nesse
contexto, explica a jornalista, o AEE (Atendimento Educacional Especializado) é
um dos recursos que garantem a equiparação de oportunidades da pessoa com
deficiência dentro da escola, e por isso deve ser exercido preferencialmente na
rede regular de ensino. “É somente colocando essas pessoas nas escolas que a
gente consegue compreender os desafios, para enfrentá-los e fazer as mudanças
de práticas pedagógicas e de gestão necessárias.”
O papel do AEE
A oferta de
AEE em escolas é um dos pontos que estão no cerne do debate e deverá ser um dos
aspectos enfocados na atualização da política, segundo informou a diretora de
Educação Especial do MEC, Patrícia Raposo.
A política
em vigor preconiza que os professores da sala de aula comum e os de AEE
trabalhem em conjunto, criando e implementando estratégias capazes de promover
a aprendizagem e a socialização dos estudantes com deficiência, transtornos
globais de desenvolvimento e superdotação/altas habilidades. Entretanto,
diagnóstico realizado pelo MEC em nível nacional, cujos resultados foram
apresentados na reunião com as entidades, apontam para um baixo grau de
articulação entre o professor da sala comum e o professor de AEE.
Em matéria sobre
o assunto, a Inclusive, agência de notícias especializada em inclusão,
contextualiza o debate no âmbito legal nacional e internacional, apontando os
efeitos de cortes de recursos sobre os programas na área da educação especial.
A agência divulgou o power point apresentado na reunião no ministério.
Um dos
resultados da avaliação apresentados pelo MEC aponta que uma minoria de alunos
com necessidades educativas especiais matriculados em escolas comuns recebe
atendimento especializado: em 2016, eram 36,8%, proporção considerada baixa
pelo ministério (clique aqui para
ver a apresentação)
Reações à proposta
O Fórum
Nacional de Educação Inclusiva publicou um documento que
questiona os argumentos apresentados pelo MEC. Entre as ressalvas está a de que
nem todo aluno com necessidade educativa especial precisa, necessariamente, do
AEE.
Além disso,
o documento diz que as definições e caracterizações propostas pelo ministério
podem dar margem a um retorno a um modelo da educação especial como um sistema
paralelo ao ensino regular, com salas e escolas especiais para estudantes com
deficiência e outras necessidades específicas.
Outra
crítica que surgiu diz respeito ao fato de entidades historicamente envolvidas
no debate sobre educação especial/inclusiva não terem sido convidadas para a reunião
do MEC. Nesse contexto, o Comitê Diretivo do Mieib (Movimento Interfóruns
de Educação Infantil do Brasil) enviou ofício ao ministério solicitando que
movimentos sociais, universidades e entidades de classe sejam ouvidas e
consideradas no processo, como informa texto em
seu site.
Segundo os
críticos, essa questão é relevante, pois a maioria das organizações convidadas
seria favorável à diversificação dos espaços de atendimento especializado aos
estudantes, de modo que ele não seja ofertado, necessariamente, na escola
comum.
A Rede
Brasil Atual noticiou que
a Associação de Magistrados do Rio de Janeiro enviou ofício ao MEC solicitando
uma audiência para discutir a proposta de atualização da PNEEPEI antes da
consulta pública. A entidade considera que as propostas apresentadas são
“inconstitucionais e restritivas aos direitos dos alunos da educação especial”.
Outras entidades também enviaram oficio ao ministério, questionando a proposta.
Em resposta
à reportagem, que procurou o MEC, a Assessoria de Comunicação informou que
haverá consultas a especialistas e a entidades representativas da sociedade
civil, bem como a representantes dos sistemas de ensino. Depois disso será
elaborada uma proposta inicial que ainda irá para consulta pública, para que a
sociedade possa dar sua contribuição.
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