
Este blog foi criado em 2018 com a finalidade de disseminar informações consistentes sobre o processo de Revisão e Atualização da PNEE-PEI 2008. Em 2020, a Pandemia carregou o país e o sistema educacional para uma crise sem precedentes. Dessa forma, o BLOG inicia uma nova fase que inclui a política de educação dos estudantes com necessidades educacionais e temas sobre a educação geral. Este BLOG não tem vinculação político-partidária de qualquer ordem.
terça-feira, 27 de outubro de 2020
Visão: ‘Atualização’ da política de inclusão atende interesses de entidades em ‘nome da segregação’ segundo Meire Cavalcante
RETROCESSOS
Reforma proposta pelo governo Temer continua a
avançar sob gestão Bolsonaro. Movimentos e pesquisadores se mobilizam para
impedir retrocessos na inclusão de pessoas com deficiência em escolas regulares
Por Redação
RBA Publicado 09/02/2020 - 10h15 Marcello Casal Jr./EBC
São Paulo – O número de matrículas na educação especial vem crescendo a cada ano para todas as etapas de ensino da rede pública brasileira, aponta o Censo Escolar de 2019, divulgado no último dia 31. No ano passado, o Ministério da Educação (MEC) registrou aumento de 5,9% nas matrículas de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades (superdotação). Em 2018 o censo já mostrava crescimento de 33,2% em relação a 2014, reforçando o total de 1,3 milhão de alunos matriculados no ano passado.
O crescimento não deixa de sugerir que a educação
básica brasileira vem ficando mais inclusiva, apesar de esforços em contrário
desde o governo de Michel Temer. No ano em que o número de matrículas deu um
salto, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão (Secadi) tentava desarticular a Política Nacional de Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI).
A proposta alterava esse instrumento de inclusão nas
escolas públicas para privilegiar a inserção de alunos com deficiência em
escolas especiais, mas a imediata reação da academia, movimentos e
entidades que defendem a educação inclusiva fez com que à época o MEC recuasse
da decisão.
Verniz democrático
Agora, no entanto, o governo Bolsonaro faz levantar
novamente a preocupação entre os representantes que defendem a inclusão nas
escolas, uma vez que o projeto de Temer não escapa da linha de “desmonte da
educação” que tem o governo, alerta a pesquisadora Meire Cavalcante, da
Faculdade de Educação e do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e
Diferença (Leped) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“A Secadi foi extinta por esse governo, no começo do
ano passado, assim que Bolsonaro tomou posse, só que a equipe que estava
no governo Temer foi mantida para dar continuidade ao projeto de desmonte da
educação inclusiva”, explica a pesquisadora em entrevista aos jornalistas
Marilu Cabañas e Glauco Faria na Rádio Brasil Atual.
As investidas contra a PNEEPEI começaram em abril de
2018, quando o governo Temer, por meio da Secadi, convocou uma reunião para
anunciar a proposta de reformar as diretrizes da política nacional de inclusão,
sob o principal argumento de que era preciso “atualizá-la” – mesmo sendo ela um
instrumento reconhecido como inovadora pela Organização das Nações Unidas
(ONU), por exemplo.
No cerne da reforma, o governo propunha a retirada
da “perspectiva da educação inclusiva” já no nome da política nacional, uma
tentativa, de acordo com Meire, de retomar classes e escolas especiais. “O
governo Michel Temer era um governo ilegítimo, não foi eleito, e se configurou
como um governo às sombras, que tentou fazer mudanças em uma política importante
para o país fingindo um verniz de democracia, e esse governo (Bolsonaro) que,
apesar de ter sido eleito, tem um caráter absolutamente autoritário, está
mantendo a linha”, adverte.
Não à toa, destaca a pesquisadora, foram selecionadas apenas algumas entidades para participar de uma reunião convocada pelo MEC em 2018 para debater a questão. “(Participaram) várias entidades que se beneficiam da segregação de seres humanos e defendem escolas e classes especiais porque acreditam nesse modelo que tem a deficiência como algo relacionado à incapacidade e também porque se beneficiam política e economicamente da segregação”, revela.
De acordo com a pesquisadora, a suposta
“atualização” gira em torno, na verdade, do financiamento público,
principalmente os recursos alocados pelo Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Desde 2008, quando a PNEEPEI foi
implementada e as escolas públicas passaram a incluir os alunos com
deficiências nas salas de aula, além de receber a verba regular e
constitucional do Fundeb, o governo também investe recursos do fundo para
garantir o chamado Atendimento Educacional Especializado (AEE), com
profissionais capacitados no atendimento à pessoa com deficiência, mas no
sentido de complementação do papel da escola comum a todos.
“E essas entidades que defendem a segregação de
seres humanos em classes e escolas especiais querem receber essa dupla
matrícula, mas ela é um motor para inclusão, não para segregação, então elas
querem receber como escola e como atendimento educacional especializado”,
ressalta Meire, acrescentando que essa verba também atrai o interesse
de prefeituras e políticos que a utilizam para também segregar e
manter nichos eleitorais. “Esse discurso que coloca a pessoa com deficiência
como incapaz ou ‘pobrezinha’ é justamente o que nós queremos extinguir”,
critica.
Eliminar barreiras faz a deficiência deixar de ser
fator de exclusão
A atual PNEEPEI, que vem garantindo a inclusão de
alunos com deficiência nas escolas brasileiras, traz uma mudança no
entendimento sobre a deficiência estabelecido décadas atrás. A pesquisadora do
Leped da Unicamp destaca a transição do modelo médico para o modelo social
atual.
Na década de 70, por exemplo, a deficiência era
entendida por uma lógica de curas e tratamentos, e foi a luta do próprio
movimento das pessoas com deficiência, ao longo desse processo, que conseguiu
realizar a transição para o chamado modelo social.
O movimento conseguiu garantir que lugar da pessoa
com deficiência era na escola regular, e não em uma escola especial que
agrupava várias terapias com atividades pedagógicas que, ao fim, tinham um
papel secundário. Em 2008, esse direito foi garantido, acompanhando a convenção
da ONU que traz um novo conceito para deficiência, como destaca a pesquisadora.
“O conceito de deficiência ficou como o que resulta
do contato entre quem tem deficiência e a barreira do contexto, e se você
elimina as barreiras, a deficiência deixa de ser um fator que exclui”,
observa. “A educação especial passa então ser o apoio, o alicerce para a
inclusão. E isso incomodou muito, porque muitas entidades passaram a perder
matrículas com dinheiro público porque a escola ao lado da casa da criança, que
é o que está previsto na Constituição, passou a ofertar, não só a
escolarização, mas também o apoio especializado”, ressalta.
Atualizar é aperfeiçoar
A transição do modelo social para o dos direitos
humanos, em processo hoje, acaba por reforçar que a deficiência é uma condição
do sujeito, mas que não determina quem ele é ou que ele pode fazer.
“A gente vai mostrando que o que precisa estar
em xeque é como a escola funciona, como ela está estruturada e qual é o
entendimento que a gente tem de estudante ideal. E esse é um problema muito
sério, porque não só discrimina e exclui as pessoas com deficiência, mas exclui
também as crianças que estão em situação de vulnerabilidade.”
Diante disso, Meire explica que qualquer “atualização”
na política nacional de inclusão deveria ser para monitorar e aperfeiçoar sua
implementação. “O desmonte vai por aí, porque eles viram que o AEE é muito
potente para que todas as escolas tenham o serviço especializado sem precisar
segregar ninguém e muitos menos alocar serviços públicos em instituições
privadas”, pontua.
A discussão da reforma de Temer está desde 2019 no
âmbito do Conselho Nacional da Educação (CNE) e é também acompanhada
pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público
Federal. As entidades, movimentos e representantes agora ficam atentos ao governo Bolsonaro que confirma o mesmo
interesse de Temer por repassar investimentos públicos às iniciativas privadas.
“O MP está atento porque, apesar de ser um governo
eleito e ter a caneta para fazer as mudanças que são legítimas que o Executivo
faça, eles não podem tudo, não podem escrever de novo a Constituição Federal e
muito menos achar que têm o direito de ferir as normas maiores do país”,
destaca a pesquisadora.
Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2020/02/atualizacao-politica-de-inclusao-interesses-economicos/
Visão: Política de Bolsonaro para pessoas com deficiência retrocede 30 anos, critica ativista Mariana Rosa do Coletivo Helen Keller
RETROCESSO E SEGREGAÇÃO
Governo Bolsonaro retoma classes especializadas, o que “valoriza a segregação”. Política lançada nesta semana atende mais os interesses econômicos do que os direitos humanos
Por Redação RBA Publicado 02/10/2020 - 12h50 Arquivo EBC
"Ao invés da gente valorizar o que cada um é, a
gente está tentando enquadrar, moldar pelos meios de processos terapêuticos.
Não é esse o lugar da escola", adverte ativista sobre a PNEE 2020
Foto: https://respeitarepreciso.org.br/ativista-pela-inclusao-escolar-conheca-mariana-rosa-mae-da-alice/
São Paulo – A política do governo Jair Bolsonaro para pessoas com deficiência retrocede 30 anos, afirma a ativista do coletivo Helen Keller, Mariana Rosa. Lançada na quarta-feira (30) pelo governo, a nova Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida (PNEE 2020) tem recebido críticas por parte de diversas entidades que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência. Instituída em decreto n° 10.502 assinado pelo presidente, a PNEE 2020 pode abrir margem para que as escolas regulares adotem uma postura discriminatória. Um dos objetivos da proposta é ampliar o atendimento educacional especializado, ou seja, espaços isolados para estudantes com deficiência.
A medida viola a Convenção Internacional dos
Direitos da Pessoa com Deficiência, assinada por 160 países, em 2007, incluindo
o Brasil. Além de ferir o Decreto 6.949 de agosto de 2009, que deu à
Convenção força de lei. E passa por cima da Lei de Brasileira de Inclusão, como
elenca a ativista pelo direito à inclusão e integrante do coletivo Helen
Keller, Mariana Rosa em entrevista a Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual.
O texto do decreto determina que as famílias poderão
escolher em que instituição de ensino a criança pode estudar. Estabelecendo
desde escolas regulares inclusivas, às especiais ou bilíngue de surdos. Mas, na
prática, essa escolha tende a não existir, como explica Mariana.
Segregando e excluindo
“Você teria uma escolha se a gente tivesse um
investimento sistemático e importante na qualificação da educação, dos
professores, de sua remuneração, na gestão democrática das escolas, na
acessibilidade, nos recursos. Aí a escola estaria muito boa, a escola pública,
regular, estaria boa o suficiente e a gente poderia escolher. Agora, uma vez
que existe o projeto de desmonte da escola pública, que o que estava previsto
na Política Nacional de Educação Especial, na perspectiva da educação
inclusiva, que também tem 12 anos, não foi cumprido totalmente, então nós vamos
escolher o quê? Nós nem fizemos o dever de casa, de implantar o que estava
previsto por essa política lá atrás. Estamos decidindo dar um passo 30 anos
atrás, sem que a gente tenha avançado a ponto de poder escolher”, contesta a
ativista.
Envolvendo os ministérios da Educação e da Mulher,
da Família e dos Direitos Humanos, a proposta não garantiu o mesmo espaço às
instituições que representam as pessoas com deficiência. E foi tomada “sem qualquer
respaldo democrático”, como frisa Mariana.
Mãe de uma criança com deficiência, a ativista pode
afirmar que “a sociedade e educação brasileira têm muito mais experiência em
segregar, excluir do que incluir”. Mariana conta que, mesmo com a vigência da
PNEE desde 2008, ao menos seis escolas negaram uma matrícula à sua filha. A
prática, antes contraria à lei, agora ganha brecha por conta do decreto de
Bolsonaro.
“Você imagina que a escola podendo dizer ‘olha, não
estou preparado, vai para essa escola especial que lá eles podem’. É claro que
ela vai ser conduzida para uma escola especial. Então, é uma falácia a gente
falar que vai ter escolha, não vai ter escolha, nunca foi sobre isso”,
aponta.
Escola é para ser escola
De acordo com a ativista, é a inclusão das pessoas com deficiência que fica em
risco. Ela, por exemplo, “que seria talvez uma família clássica que
encaminharia a filha para a escola especializada, porque minha filha tem grande
nível de dependência. Ela não anda, não fala, precisa de apoio para todas as
atividades cotidianas, não é muito óbvia a maneira como ela constrói o
conhecimento e se comunica”, como relata, mesmo assim fez questão de matricular
a criança em uma escola regular, porque é a instituição, como garante, “que tem
que melhorar”.
“Eu quero que ela esteja na escola regular, e que
essa escola pública, gratuita, laica e de qualidade esteja à altura dela”,
destaca. “A escola que tem que melhorar e não retroceder, piorar, lotear a
educação e segregar as pessoas. O que vamos aprender com isso como sociedade?
Que temos que apartar alguns tipos de diferença? É isso que a gente quer?”,
questiona Mariana.
“Essa é jogada que valoriza o processo de
segregação, que é inclusive, até hoje pelo menos, inconstitucional, além de ser
imoral, discriminatório, capacitista e violador de direitos”, ressalta. A nova
política fica agora a cargo dos entes federados, que podem escolher de forma
voluntária se vão aderir ou não. Aos que escolherem, o governo Bolsonaro já
declarou que dará incentivos. Sem a devida valorização da escola pública, a
opção da PNEE saltará aos olhos, preveem as entidades.
Interesses econômicos
Esse cenário já havia sido advertido pela RBA quando,
em reportagem no início do ano, a pesquisadora Meire Cavalcante, da Faculdade
de Educação e do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença
(Leped), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), alertava que o governo Bolsonaro daria continuidade ao desmonte do PNEE iniciado
ainda na gestão de Michel Temer. À época, já destacava a pesquisadora, que o
que estava em jogo era o interesse de determinadas instituições “que se
beneficiam da segregação de seres humanos e de classes especiais
economicamente”.
Mariana concorda. “Tem muitas misturas aí e no final
das contas não é sobre direitos humanos, os direitos da pessoa com deficiência.
É sobre interesse econômico”, garante.
A sociedade que queremos
“Eu compreendo as famílias de crianças com
deficiência que encontrem respaldo e apoio nas instituições especializadas, porque
lá, as crianças e jovens têm atendimento de fonoaudiologia, de fisioterapia e
terapia ocupacional. Mas a escola tem que ter o lugar de escola. Ela é o lugar
de ensinar e de aprender. Se gente substituir isso por uma vivência
terapêutica, a gente está passando uma mensagem para a sociedade de que as
pessoas com deficiência não aprendem, de que na verdade elas precisam ser
tratadas para que possam performar dentro de um determinado padrão que foi
estabelecido”, adverte a ativista e integrante do coletivo Helen Keller.
“Em vez da gente valorizar o que cada um é, a gente
está tentando enquadrar, moldar pelos meios de processos terapêuticos. Não é
esse o lugar da escola, o lugar da escola é de valorizar a diferença, de
aprender e conviver com ela. E para fazer o tratamento terapêutico, que é
importante, a gente recorre ao SUS (Sistema Único de Saúde) e ao SUAS (Sistema
Único de Assistência Social)”, finaliza na Rádio Brasil Atual. Mesmo com o
decreto, os ativistas, entidades comprometidas e as pessoas com deficiência
continuam na resistência frente a esse processo.
Visão: Política de educação especial de Bolsonaro tem por trás ‘disputa de recursos por escolas’ por Izabel Rodrigues
EXCLUSÃO POR INTERESSE?
Crítica às classes especializadas é da psicóloga Isabel Rodrigues. Movimentos de pessoas com deficiência se articulam pela revogação de decreto
Redação RBA Publicado 13/10/2020 - 12h02Dênio Simões/Ag. Brasília Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima
Escolas devem "proporcionar a aprendizagem das crianças com deficiência com as crianças sem deficiência no mesmo espaço", afirma Isabel
São Paulo – Para a psicóloga, pedagoga e doutoranda em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Isabel Rodrigues, a nova Política Nacional de Educação Especial (PNEE), apresentada pelo governo Jair Bolsonaro para estudantes com deficiência, tem por trás “uma disputa por recursos” entre “instituições segregadoras que são nomeadas como escolas especiais”. Publicada em decreto (nº 10.502) no final de setembro, a medida é vista como uma ameaça à educação inclusiva, prevista em lei desde 2009.
Em entrevista a Glauco Faria, do Jornal Brasil
Atual, Isabel, que é também assessora do Instituto Vladimir Herzog (IVH),
destaca que a nova política extingue a ideia de educação inclusiva ao propor
que classes especializadas conduzam a aprendizagem de estudantes com
deficiência. O que, na prática, são espaços institucionais à parte da escola
regular, onde essas pessoas não vão ter seus direitos garantidos.
“Não tenho dúvida de que uma das intenções seja
destinar parte dos recursos a instituições que antes recebiam pela via da
saúde, da assistência social e da educação os recursos para existirem. E a
partir de 2008, com a proposta da educação inclusiva, elas perderam grande
parte do recurso da educação. Desde então há algum tipo de pressão para se
retornar a um nível de financiamento”, afirma a psicóloga e pedagoga.
Articulação
Conforme reportado pela RBA, desde que foi
anunciada pelo presidente, a medida é alvo de inúmeras críticas de entidades e
movimentos das pessoas com deficiência. Na Câmara dos Deputados, por exemplo,
há ao menos seis projetos de decreto legislativo (PDL) que pedem sua suspensão.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também apresentou o PDL 437 no Legislativo para sustar os
efeitos do decreto.
Em paralelo, os ministérios públicos de São Paulo e
Paraná também destacam que a nova PNEE é inconstitucional. E representa um retrocesso do
ponto de vista legal. Isso porque há uma “confusão” entre a oferta do direito à
educação com a oferta do direito à educação especializada. O que reduz a
participação das pessoas com deficiência na educação. Na prática, a medida de
Bolsonaro está longe de garantir o acesso à educação regular ao propor como
modalidade de ensino as chamadas classes especializadas.
De acordo com Isabel, devido à pressão contrária ao
decreto, movimentos e entidades já conseguiram um requerimento de urgência para
votação na Câmara. “Agora é necessário que o (presidente da Câmara) Rodrigo
Maia paute e o decreto seja revogado”, comenta. Pelas redes sociais, apoiadores
também emplacam hashtag #EscolaEspecialNãoÉInclusiva.
Contra as barreiras
“A gente sabe pelo histórico dessas instituições que
as características que elas desenvolvem estão mais localizadas no campo da
saúde do que da educação. Essas instituições tiveram seu papel histórico na
época em que não existiam políticas públicas de acesso e garantia de direitos
dessa população”, observa a psicóloga e pedagoga sobre o período anterior ao
decreto 6.949 de 2009. A medida foi a que deu força de lei à Convenção
Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, assinada por 160 países
dois anos antes.
“A partir de convenção, ratificada no Brasil com
status constitucional desde 2009, ela procura garantir uma mudança de
perspectiva de um modelo médico, que localizava a deficiência no corpo da
pessoa, para um modelo social. Então deficiência não é algo que a pessoa sofre
ou porta. Ela está localizada no encontro da pessoa com a sociedade. A
sociedade promove barreiras para essas pessoas. A pessoa que é usuária de
cadeiras de rodas e não encontra rampas pela cidade, ela vai estar mais
excluída do que uma pessoa que mora numa cidade em que a acessibilidade está
garantida em todos os prédios. Da mesma forma é a escola”, compara Isabel,
reforçando a importância da inclusão na escola regular.
“Ofertar a produção de recursos de acessibilidade,
romper com barreiras que possam existir e proporcionar a aprendizagem dessas
crianças com deficiência com as crianças sem deficiência no mesmo espaço”,
finaliza.
Visão: Procuradora Regional da República Eugênia Gonzaga, mãe de uma pessoa com deficiência, se manifesta sobre o Decreto No. 10.502
ENTREVISTA (OBS. na reportagem há o vídeo da entrevista indisponível! Censurado?)
Reportagem site Rede Brasil Atual
Eugênia Gonzaga: ‘Uma escola que não seja inclusiva não é escola, não é completa’
De acordo com Eugênia Gonzaga, o acesso de toda
criança ao ambiente escolar e à coletividade é a única forma de preparo para a
cidadania e o desenvolvimento
A inclusão de estudantes com deficiência é um
desafio que escolas, pais e as próprias crianças enfrentam diariamente. Além de
espaço adequado e profissionais capacitados, é necessário levar em conta que
esses estudantes têm direito a educação como todos. Agora, a polêmica está
instalada. Um decreto presidencial institui a Política Nacional de Educação Especial (PNEE), que
flexibiliza a obrigatoriedade da inclusão de crianças com deficiência nas
escolas. A medida pode causar uma exclusão ainda maior dessa parcela da
população infantil. Educadores dizem que a nova medida é um passo atrás nas
conquistas que pautam a inclusão. A procuradora regional da República Eugênia
Gonzaga fala sobre os impactos desse decreto como instrumento de maior exclusão
das crianças com deficiência.
De acordo com Eugênia, que tem um filho com Síndrome
de Down, a Constituição de 1988 garante não apenas o direito à educação a todas
as crianças, mas a “educação formal, em ambiente escolar, que pressupõe a
coletividade. “Essa é a única forma de preparo da criança para a cidadania e o
pleno desenvolvimento”, afirma. “Uma escola que não seja inclusiva não é
escola, não é completa. Tanto a escola que não recebe pessoa com deficiência,
como aquela escola que só recebe pessoa com deficiência são ambientes
distorcidos da realidade.”
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Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2020/10/eugenia-gonzaga-entrevista-educacao-inclusiva/