terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Análise das Contribuições à Atualização da Consulta Pública da PNEE 2018: relato de minha experiência como membro do GT de Maceió


Este relato é pessoal. Portanto,  compartilho exclusivamente minha visão, interpretação e experiência como uma das especialistas do campo de conhecimento da Educação das Pessoas com Deficiência e outras Necessidades Educacionais convidadas para participar do Grupo de Trabalho em Maceió, entre os dias 27 e 29 de Novembro 2018. 

Conforme já abordado neste BLOG (vide https://pnee2018.blogspot.com/2018/11/atualizacao-da-politica-nacional-de.html), fui convidada para participar do processo de análise dos dados colhidos por meio da Consulta Pública sobre a Atualização da PNEE-PEI 2008. 

Tenho declarado, em múltiplas ocasiões, minha posição favorável à atualização desta política após 10 anos de seu lançamento pela antiga e extinta (em 2011) Secretaria de Educação Especial - SEESP. Associo a este argumento à significativa produção científica no âmbito do Observatório Nacional da Educação Especial - ONEESP, do qual fiz parte como Coordenadora da Paraíba, cuja produção evidencia elementos chaves da política, que  - no mínimo - deveriam ser revistos, rediscutidos amplamente e alterados no texto da mesma. 

Soma-se à esta produção, outros estudos e, principalmente, os milhares de relatos postados nas mídias sociais por mães, familiares, educador@s sobre as ´experiências exclusionárias´ (conceito criado na minha tese de Dr.) de crianças, jovens e adultos vividas nos espaços educacionais. Ou seja, é sim hora de ´mexer´ na política!

O processo de construção da Minuta da ´atualizada´ Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e ao Longo da Vida envolveu a publicação de Editais pela UNESCO 2017/2018 para os quais inúmeros especialistas na área participaram, inclusive eu. Estudos e pesquisas financiados foram realizados, sem a interferência/ingerência da SECADI. Esta foi a minha experiência! 
  
Paralelamente, foram realizadas quatro reuniões coordenadas pela equipe da SECADI (não participei de nenhuma), as quais foram consideradas insuficientes por uma ampla parcela da população e de grupos organizados. 

Consequência: muitos manifestos e moções foram publicados contra a atualização da PNEE-PEI 2008 no atual momento da crise brasileira. Nesse contexto, a SECADI/MEC foi, inúmeras vezes, acusada de ter instituído um processo antidemocrático pela falta de transparência e porque não houve amplo debate com a sociedade civil e grupos organizados – com o que concordo plenamente. Todavia, eu entendia e defendia que a Consulta Pública seria o foro de participação social e contribuições.

Agora, contudo, após ter participado do Grupo de Trabalho em Maceió, tenho uma visão diferente sobre tudo isso... Vamos lá aos detalhes...

(1) Consulta encerrada em 23/11/2018. O prazo da consulta (originalmente 21/11) foi prorrogado e publicizado pelo Secretário da SECADI Sr. Júlio Freitas na Audiência do CNE ao vivo online, no dia 19/11/2018 de manhã.

(2)  Grupo de Trabalho de Maceió (que não tem esta designação e não tem portaria porque somos convidados por colegas da UFAL) constituído por 20 profissionais da área (a maioria doutor@s) convidado para a análise. O grupo reuniu-se no Maceió Mar Hotel entre 27 e 29/11/2018.

Coordenação dos Trabalhos feita pela Equipe da UFAL – Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES), contratado pela SECADI para este fim pela sua expertise em pesquisa com larga população.   

(3) Adoção do Software IRAMUTEQ adotado para organização dos dados e levantamentos das evidências que organiza dados quanti-qualitaitvos para a análise textual discursiva. (vide: http://iramuteq.org). De acordo com o trabalho Computer Supported Qualitative Research (pp 58-72) apresentado a World Conference on Qualitative Research (WCQR 2018) esse ‘software contribui para o processo metodológico de análise textual discursiva, oferecendo agilidade, novas perspectivas e rigor para a qualidade textual da análise de dados.”

      
(4) Dia 27/11/2018 – 1º Dia de trabalho do GT

Neste dia houve a apresentação do grupo, da atividade a ser realizada e um treinamento, conduzido pelos  professores da UFAL para o uso do software iRaMuTeQ, utilizado na sistematização dos dados coletados na consulta pública.  No período da tarde, o treinamento envolveu a discussão dos termos utilizados na uniformização das palavras chaves contidas na política, ou mencionados pelas contribuições por todos os membros. A equipe também trabalhou sistematicamente na ´limpeza´ dos textos (ex. retirada de hífen, asteriscos, letras maiúsculas, uso de underline, correção de digitação, gramática, entre outros) necessários para a utilização do software. Fase essencial para conciliar o trabalho de preparação do corpus com o contato direto com os dados. Ao final do dia foi possível definir as terminologias relevantes para o relatório. Foi proposta por um membro do GT um modelo de estrutura das seções e a uniformização geral do processo de análise qualitativa dos resultados consolidados. (minhas anotações)

No almoço, com um grupo de colegas compartilhamos nossas expectativas frustradas pelos trabalhos da manhã pois, entendemos que estávamos fazendo um trabalho ´braçal´ e não o que esperávamos realizar: a análise das contribuições recebidas durante a Consulta Pública! Também já era claro para nós que não haveria tempo suficiente para a consecução do objetivo central do GT. Ficou combinado que falaríamos com tod@s @s colegas e foi marcado para o dia seguinte à noite uma reunião, mas a situação era tal que, na manhã seguinte refletimos sobre o que estava acontecendo.

(5) Dia 28/11/2018 – 2º. Dia de trabalho do GT

No período da manhã, a equipe manifestou sua preocupação com o fato de que não haveria tempo hábil para proceder à limpeza dos dados e a análise dos mesmos a partir do processamento dos mesmos pelo software. Houve inclusive uma votação a respeito de como prosseguir, durante a qual ficou definido a elaboração pela coordenação da presente ATA e o envio de email ao MEC. O MEC foi consultado pelo coordenador da ação sobre a questão do tempo exíguo para a consecução do relatório. Enquanto isso, a equipe foi dividida em grupos com diferentes funções na análise e tratamento dos dados: grupo dos dados da Escala Likert, Grupo da limpeza dos dados, Grupo da Análise das evidências contidas nas nuvens de palavras, dendogramas, gráfico de análise de similitude  (evidências). No dia 28 de Novembro, a partir de um modelo de apresentação das evidências e análises das seções, tópicos e subtópicos, a equipe  foi dividida em grupos de análise dos dados quantitativos (classes, dendograma, escala likert, nuvem de palavras) e dados qualitativos baseados nos enunciados representativos das classes que contém os segmentos de textos mais frequentes e relevantes para subsidiar a política. (idem)

(6) Dia 29/11/2018 – 3º. Dia de trabalho do GT

No dia 29 de Novembro, o GY continuou a etapa de análise dos dados conforme o dia anterior associado a revisão por peers das análises produzidas. Somente quatro dos 47 tópicos a serem analisados foram finalizados. (idem).

Estávamos tod@s apreensiv@s, aguardando a resposta do Secretário da SECADI, que veio no final do dia com a concordância acerca da prorrogação do prazo para a conclusão do trabalho de análise dos dados/evidencias oferecidas pelo software. Fomos consultados sobre possíveis datas e ficou fechado o que se segue.

(      (7) Prorrogação – novo encontro 10-12/11/2018 em Brasília

- @s membr@s do GT disponíveis participarão de um novo período de trabalho, agora em Brasilia nos dias 10-12/12/2018 (Eu não participarei, estou indisponível).

-  objetivo: proceder à elaboração do documento subsidiário da PNEE-2018, cuja análise das seções e tópicos da Minuta estão sendo realizadas por tod@s antes do dia 10/12/2018.

- todos os tópicos da Minuta foram divididos entre @s membr@s do GT. (Eu e uma colega faremos a análise dos nove princípios que orientam a Política).

- a equipe continua interagindo diariamente por meio de grupo no zapp e email, compartilhando dúvidas, orientações e apoios.

Um dado chave que precisa ser divulgado de forma transparente neste processo é que o movimento desencadeado pela Associação Brasileira de Pesquisadores da Educação Especial – ABPEE marcou de forma decisiva  a organização e representação dos dados tratados pelo software IRAMUTEQ. (vide https://pnee2018.blogspot.com/2018/12/po-fenomeno-copia-e-cola-nova-forma-de.html)

Na minha opinião, o grande número de pessoas que (infelizmente) ´copiaram e colaram´ o texto construído durante o Congresso Brasileiro de Educação Especial realizado na Universidade de São Carlos (vide documento em:https://pnee2018.blogspot.com/2018/11/posicionamento-ds-academicos-da-area-de.html) ´atolou´ o sistema de tal forma que a equipe solicitou aos colegas técnicos uma ampliação significativa dos dados disponíveis. Em outra postagem analiso esta decisão tomada no CBEE que – na minha opinião - pode ser traduzida como sabotagem da Consulta Pública ao invés de mobilização da academia para pressionar do governo federal.

Como já afirmei antes, a crise político-ético-econômica que afeta o país não pode ser usada como justificativa para deixar esse processo para outro momento histórico. Por isso, discordo daquel@s que se posicionam contra a atualização da política agora.

Todavia, tendo participado do processo de início da análise das contribuições para a Consulta Pública como membro do GT de Maceió, baseada em minha experiência de 20 anos como pesquisadora na área e com ampla experiência em políticas públicas, hoje tenho a clareza de que - independentemente das competências e esforços da equipe do GT – o relatório não será representativo das contribuições enviadas durante Consulta Pública, simplesmente pelo fato de que o tempo alocado pela SECADI/MEC para uma análise apropriada, fundamentada nas evidências a inviabiliza.

Tornado transparente o processo, concluo este post declarando que defendo uma nova fase de debate para assegurar o melhor texto possível para esta política e a extensão do prazo para uma nova fase de debates e consulta presenciais, por meio de Audiência nas várias regiões do Brasil, como aconteceu com a Base Nacional Comum Curricular. (vide: https://www.youtube.com/watch?v=RHj9xAXlqRI&t=180s (25m) e http://basenacionalcomum.mec.gov.br/) que levou mais de dois anos e três versões...  

O documento da política não pode ser enviado para o Conselho Nacional de 
Educação antes deste processo amplo de debate e contribuições em território nacional.

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